"Quando "apenas nos sentamos", estamos na verdade a tornar-nos amigos de nós mesmos. Temos vontade de encarar o que quer que apareça de nós mesmos. Temos vontade de encarar o que quer que apareça sem fugirmos. Pouco a pouco, neste processo misterioso, o nosso medo da vida e de nós próprios diminui. Não somos tão pressionados por compulsões internas - forçados a viver sob o peso de intermináveis padrões cármicos. Desnecessário será dizer que ao conhecermo-nos estamos também a conhecer o mundo inteiro. Não precisamos de saltar de pessoa em pessoa, ou de situação em situação para sabermos quem está lá ou o que está a acontecer.
Quanto mais nos sentamos quietos e ficamos em ligação connosco próprios, mais o mundo inteiro se revela diante dos nossos olhos.
Abre a tua própria casa do tesouro...
Daiju visitou o mestre Baso na China, Baso perguntou:
"O que procuras?"
"A iluminação", respondeu Daiju.
"Tu tens a tua própria casa do tesouro. Porque procuras no exterior?", perguntou Baso.
Daiju quis saber, "Onde fica a minha casa do tesouro?"
Baso retorquiu:
"Aquilo que estás a perguntar é a tua casa do tesouro."
Daiju tornou-se iluminado. Desde então, ele está sempre a recomendar aos seus amigos: "Abram a vossa própria casa do tesouro e usem essas riquezas."
Quando nos sentamos, abrimos a nossa própria casa do tesouro. No entanto, em vez de fazer isto, a maioria de nós procura primeiro os tesouros que os outros lhe podem dar. Calculamos o valor que esses tesouros têm para nós. Quando temos este tipo de aproximação aos relacionamentos, aparecemos como pedintes que vêem no ouro uma fonte de sustento. Quando conseguimos entrar numa relação com a nossa casa do tesouro já aberta, não há limite às maravilhas que podemos encontrar, tanto dentro de nós como na nossa relação com o outro."
in livro, Zen e a arte de Amar, Brenda Shoshanna ( pág.37, 38)