30 de jan. de 2013

O Mito de Sísifo


Na mitologia grega, reza a história, que Sísifo foi condenado a empurrar uma rocha muito pesada até ao cimo de uma montanha. Quando estava mesmo a chegar ao topo da montanha, a rocha voltava a rolar pela encosta abaixo. Sísifo tinha então de recomeçar uma vez mais o mesmo esforço, empurrando novamente a rocha até ao cimo da montanha. Toda a sua vida foi assim, mecância, repetitiva, vazia de significado e sem a recompensa inerente ao sentimento de missão cumprida.

Albert Camus, vê em Sísifo o ser que vive a vida ao máximo, odeia a morte e é condenado a uma tarefa sem sentido, como o herói absurdo. Não obstante reconheça a falta de sentido, Sísifo continua executando sua tarefa diária. Camus, apresenta o mito para, trabalhar uma metáfora sobre a vida moderna, dando o exemplo de trabalhadores em empregos fúteis em fábricas e escritórios. "O operário de hoje trabalha todos os dias da sua vida, faz as mesmas tarefas. Esse destino não é menos absurdo, mas é trágico, quando apenas em raros momentos, ele se torna consciente".

Talvez o nosso trabalho seja uma condenação e a nossa vida uma tragédia rotineira. Talvez, num lampejo de consciência, Sísifo tivesse reconhecido o peso de seu infortúnio representado pelo enorme rochedo da materialidade e da inutilidade; consideraria que ele próprio, com a sua mente e sua sensibilidade, estaria assemelhando-se ao rochedo, e que seria necessário reverter aquele processo monótono, cíclico, repetitivo.


http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Mito_de_S%C3%ADsifo 


"Talvez fosse possível mudar a rotina absurda de dias, anos e séculos. Preso, no entanto, à mitologia, criado que fora para cumprir esta finalidade pedagógica, nada pode mudar. Ele prossegue no seu tormento para que possamos superar o nosso; é um herói trágico e absurdo. Para o ser humano existe a possibilidade de modificar a rotina absurda, de lançar longe o rochedo das misérias, da ignorância e da inconsciência; deixar de repetir os dias, os anos e as vidas sem variação alguma para construir o próprio destino. A pedra de Sísifo tem, nos dias de hoje, outros nomes, mas é inútil o trabalho de erguê-la. Deixemos que o rochedo role ladeira abaixo e que Sísifo prossiga como mito. Pensemos que poderemos superar aquele trabalho rotineiro, inútil e sem esperança modificando a nossa vida, o nosso presente e o nosso futuro." Nagib Anderáos Neto
Ao ler o livro "Zen e a arte de amar" de Brenda Shoshanna, pude verificar uma outra perspectiva ou forma de encarar este mito. Do ponto de vista do Zen, nós devemos simplesmente deixar de empurrar a rocha montanha acima. Devemos cortar a nossa ligação com os padrões mecânicos e a falsa noção de que, o que desejamos seja o que for é exterior a nós. Quando estamos na dependência de que o mundo exterior nos preencha, mais tarde ou mais cedo a rocha que estivemos a empurrar até ao cimo da montanha começará de novo a rolar pela encosta. As circunstâncias alteram-se, o sentido de nós próprios vacila com as mudanças forjadas pelo tempo. Ao entrarmos na prática do Zen, a nossa capacidade a vários níveis desenvolve-se a partir de uma outra base. Passa por um processo interior, deste modo somos obrigados a deixar de agir de forma cega e aprendemos a observar tudo o que surge, tanto no nosso interior como no exterior. Tal como disse um grande mestre Zen: "o Zen consiste apenas em apanhar o nosso casaco do chão e colocá-lo no seu devido lugar."
O Zen é absolutamente simples, e é nisso que reside o seu poder. Toda a gente, quem quer que seja, tem a capacidade de o praticar, não se requer nada de especial, apenas a vontade de ser aquilo que se é.



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